O ensaio A alma do homem sob o socialismo é uma peça peculiar da obra do escritor irlandês radicado na Inglaterra Oscar Wilde. Publicado no periódico The Fortnightly Review em 1891, trata-se de um texto que veio a público no despontar da carreira do autor: ele já publicara O príncipe feliz e outras histórias, com contos para crianças, a primeira versão de O retrato de Dorian Gray, bem como O retrato do Sr. W. H e a peça A duquesa de pádua, e já mantinha certo renome como jornalista. Por outro lado, A alma do homem foi escrito antes da experiência que viria a ser o divisor de águas da carreira (e da vida) daquele que foi um dos maiores observadores da vida burguesa e da natureza humana de todos os tempos: o processo e a condenação a dois anos de encarceramento com trabalhos forçados por crimes de natureza sexual em função de seu caso com o jovem Lord Alfred Douglas.
Depois da prisão, um novo Wilde surgiria, dedicando-se mais a questões como ética humana, liberdade, política, como se pode ver no célebre De profundis (vol. 87 da coleção L POCKET) e em A balada do cárcere de Reading.
Portanto, A alma do homem é o único texto de certa extensão escrito previamente ao processo e escândalo no qual Wilde — aquele cujos únicos compromissos eram com a ironia, a provocação e a elegância — debruça-se detidamente sobre a política, a liberdade, a condição social humana. Neste ensaio, Wilde aborda seriamente a então promessa socialista, analisando seus prós e contras, e, como um profeta maldito, além de artista para o qual a liberdade pessoal não pode ser diminuída, chama a atenção para a importância que o socialismo precisaria garantir à individualidade humana.